D8 – Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la - 3º EM
- Nelson Junior
- 3 de mai.
- 12 min de leitura
Atualizado: 8 de mai.

Sejam bem-vindos a mais uma aula do nosso curso preparatório. Hoje, vamos mergulhar no descritor D8: “Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la”. Este descritor é crucial para a compreensão textual, especialmente em textos argumentativos, e frequentemente aparece em avaliações como o ENEM.
O que significa o D8?
Em essência, o D8 avalia a sua capacidade de identificar como os argumentos apresentados em um texto se conectam e sustentam a tese central. A tese é a ideia principal defendida pelo autor, o ponto de vista que ele busca convencer o leitor a aceitar. Os argumentos, por sua vez, são as ferramentas que o autor utiliza para dar suporte a essa tese, buscando torná-la mais convincente e robusta.
Diferenciando Tese e Argumentos
Imagine um prédio: a tese é o topo do prédio, a parte mais visível e o objetivo final da construção. Os argumentos são as colunas, as vigas e a fundação, ou seja, a estrutura que sustenta o topo. Sem uma boa estrutura, o prédio não se mantém em pé. Da mesma forma, sem bons argumentos, a tese se torna frágil e pouco persuasiva.
Tipos de Argumentos
Existem diversos tipos de argumentos que um autor pode utilizar. Conhecê-los é fundamental para entender como eles se relacionam com a tese:
Argumentos de Autoridade: Baseiam-se na citação de especialistas, estudiosos ou instituições reconhecidas no assunto. A força desse argumento reside na credibilidade da fonte citada. Exemplo: “Conforme pesquisa do IBGE, o índice de desemprego juvenil cresceu 15% no último ano.”
Argumentos por Evidência: Apresentam dados concretos, fatos comprovados, estatísticas ou pesquisas. A objetividade desses dados busca dar mais peso à argumentação. Exemplo: “O aumento do consumo de फास्ट food está diretamente ligado ao crescimento da obesidade infantil, conforme apontam estudos da Organização Mundial da Saúde.”
Argumentos por Comparação: Estabelecem paralelos entre situações, ideias ou conceitos, buscando semelhanças ou diferenças para reforçar o ponto de vista. Exemplo: “Assim como a falta de investimento em educação básica compromete o futuro do país, a negligência com a saúde mental dos jovens afeta o desenvolvimento social.”
Argumentos de Causa e Consequência: Mostram a relação entre um fato e seus efeitos, explicando como uma ação ou evento leva a determinado resultado. Exemplo: “A falta de políticas públicas de incentivo à leitura resulta em um baixo índice de alfabetização funcional na população adulta.”
Argumentos por Exemplificação: Utilizam exemplos concretos para ilustrar e tornar mais compreensível a tese defendida. Exemplo: “Diversos países europeus, como a Finlândia e a Noruega, investem maciçamente em educação integral, o que se reflete em altos índices de desenvolvimento humano.”
Como Identificar a Relação entre Tese e Argumentos?
Para identificar essa relação, siga os seguintes passos:
Identifique a Tese: Leia o texto atentamente e procure a ideia central defendida pelo autor. Geralmente, a tese aparece na introdução ou na conclusão do texto, mas pode estar presente em outras partes também.
Localize os Argumentos: Procure as razões, evidências, exemplos e outros recursos que o autor utiliza para sustentar sua tese.
Conecte os Pontos: Analise como cada argumento se relaciona com a tese. Pergunte-se: “Como este argumento contribui para a defesa da tese?” ou “Este argumento responde a qual aspecto da tese?”
Considere a seguinte tese: “A prática regular de exercícios físicos traz inúmeros benefícios para a saúde.”
Alguns argumentos que poderiam sustentar essa tese seriam:
“Estudos científicos comprovam que a atividade física regular fortalece o sistema cardiovascular, prevenindo doenças como infarto e AVC.” (Argumento por Evidência)
“A prática de exercícios libera endorfinas, neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar, combatendo o estresse e a ansiedade.” (Argumento de Causa e Consequência)
“Assim como um carro precisa de manutenção para funcionar bem, o corpo humano necessita de atividade física para se manter saudável e em forma.” (Argumento por Comparação)
Perceba como cada argumento se conecta diretamente à tese, oferecendo diferentes perspectivas e evidências para reforçá-la.
Dominar o descritor D8 é essencial para a interpretação textual e para a produção de textos argumentativos consistentes. Ao compreender a relação entre tese e argumentos, você se torna um leitor mais crítico e um escritor mais persuasivo. Lembre-se: a tese é o destino, e os argumentos são o caminho que leva até ele.
Fórum: Opinar, compartilhar e refletir
Objetivo Geral:Estimular o debate qualificado em ambiente virtual, fazendo com que cada aluno identifique relação entre tese e argumentos e comente as ideias dos colegas de forma construtiva.
Postagem Inicial (Opinar)
Escolha UMA das teses abaixo ou crie a sua própria (de preferência algo ligado ao seu cotidiano ou interesses):
“O uso de uniformes escolares promove igualdade entre os alunos.”
“O ensino de educação financeira deve começar na escola.”
“A leitura diária melhora significativamente a escrita dos estudantes.”
No seu post, apresente:
Tese (frase clara e direta).
Três Argumentos Distintos, cada um de um tipo diferente:
Autoridade
Evidência
Comparação
Causa & Consequência
Exemplificação
Explique em duas frases como cada argumento sustenta diretamente a sua tese.
Interação (Compartilhar)
Leia com atenção ao menos dois posts de colegas.
Em cada comentário, responda:
O que você achou sólido na relação argumento→tese?
Sugestão de melhoria ou pergunta: “Você poderia reforçar com um dado diferente?”, “Como esse argumento se relaciona também com…?”, etc.
Exemplo de comentário construtivo:
“Oi, Maria! Gostei especialmente do seu argumento de evidência sobre estatísticas do IBGE. Para torná-lo ainda mais forte, você poderia indicar ano e fonte exata? Assim quem lê sabe exatamente onde consultar.”
Reflexão Final (Refletir)
Após receber pelo menos dois comentários, volte ao seu próprio post e faça uma breve reflexão (2–3 linhas), respondendo:
O que você aprendeu sobre sua tese ao ler o feedback?
Que ajuste você faria nos seus argumentos para torná-los mais persuasivos?
Dica: cite o nome de quem comentou, agradeça e mostre como vai incorporar a sugestão.
PRATIQUE!
A Importância do Investimento em Saneamento Básico
Editorial
O Brasil ainda enfrenta graves problemas relacionados ao saneamento básico, impactando diretamente a saúde pública, o meio ambiente e o desenvolvimento socioeconômico do país. A falta de acesso à água potável, coleta e tratamento de esgoto e manejo adequado de resíduos sólidos configura um cenário preocupante que exige investimentos urgentes e eficazes.
Um dos principais argumentos que sustentam a necessidade de priorizar o saneamento básico reside na sua íntima ligação com a saúde da população. De acordo com dados do Instituto Trata Brasil, a cada real investido em saneamento, economizam-se quatro reais em saúde. Doenças como diarreia, verminoses, leptospirose e dengue, frequentemente associadas à falta de saneamento, sobrecarregam o sistema de saúde e causam sofrimento evitável. A universalização do acesso ao saneamento, portanto, representa um investimento em prevenção e qualidade de vida.
Além disso, a ausência de saneamento adequado gera graves danos ao meio ambiente. O lançamento de esgoto não tratado em rios e mares contamina os recursos hídricos, prejudica a fauna e a flora aquáticas e compromete o abastecimento de água para consumo humano. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) demonstrou que a poluição dos rios causada pela falta de tratamento de esgoto impacta negativamente a pesca e o turismo em diversas regiões do país. A preservação ambiental, portanto, depende crucialmente de investimentos em saneamento básico.
Outro ponto crucial é a relação entre saneamento básico e desenvolvimento econômico. Cidades com infraestrutura de saneamento adequada atraem mais investimentos, geram empregos e impulsionam o turismo. Um relatório do Banco Mundial aponta que o saneamento precário reduz o Produto Interno Bruto (PIB) de um país em até 2%. A melhoria dos serviços de saneamento, dessa forma, configura um importante fator de crescimento econômico e social.
Em suma, investir em saneamento básico não é apenas uma questão de infraestrutura, mas sim uma necessidade urgente para a promoção da saúde, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento econômico do país. A omissão nesse setor representa um alto custo social e econômico, que o Brasil não pode mais ignorar.
Questão 1. Qual a tese principal defendida no editorial?
a) A falta de saneamento básico não impacta a saúde pública.
b) O investimento em saneamento básico é desnecessário para o desenvolvimento econômico.
c) O Brasil não enfrenta problemas graves relacionados ao saneamento básico.
d) Investir em saneamento básico é crucial para a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento econômico.
e) Apenas o tratamento de esgoto é importante para o saneamento básico.
Questão 2. Qual tipo de argumento é utilizado quando o texto cita dados do Instituto Trata Brasil?
a) Argumento por Comparação
b) Argumento de Causa e Consequência
c) Argumento de Autoridade/Evidência
d) Argumento por Exemplificação
e) Argumento por Analogia
Questão 3. O exemplo do estudo da USP sobre a poluição dos rios serve para sustentar qual argumento principal?
a) A relação entre saneamento e desenvolvimento econômico.
b) A importância da educação ambiental.
c) Os danos ambientais causados pela falta de saneamento.
d) A necessidade de investimentos em saúde pública.
e) A importância do turismo para o país.
Questão 4. A comparação implícita entre cidades com saneamento adequado e cidades sem saneamento, no quarto parágrafo, configura qual tipo de argumento?
a) Argumento de Autoridade
b) Argumento por Exemplificação
c) Argumento de Causa e Consequência
d) Argumento por Comparação
e) Argumento por Analogia
Questão 5. Qual a principal consequência da falta de saneamento básico, segundo o texto?
a) Aumento do turismo internacional.
b) Preservação dos recursos hídricos.
c) Melhora na qualidade de vida da população.
d) Impactos negativos na saúde, no meio ambiente e na economia.
e) Diminuição da necessidade de investimentos em saúde.
Questão 6. (PROEB). Leia o texto abaixo.
Cultura e sociedade
(Fragmento)
A importância da água tem sido notória ao longo da história da humanidade, possibilitando desde a fixação do homem à terra, às margens de rios e lagos, até o desenvolvimento de grandes civilizações, através do aproveitamento do grande potencial deste bem da natureza. A sociedade moderna, no entanto, tem se destacado pelo uso irracional dos recursos hídricos, o desperdício desbaratado de água potável, a poluição dos reservatórios naturais e a radical intervenção nos ecossistemas aquáticos, de forma a arriscar não só o equilíbrio biológico do planeta, mas a própria natureza humana.
CEREJA, William Roberto e MAGALHAES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 8ª série. 2. ed. São Paulo: Atual, 2002.
Um argumento que sustenta a tese de que “a sociedade moderna tem utilizado de forma irracional seus recursos hídricos” é que
A) a água acompanha a história através dos séculos.
B) a água possibilitou o surgimento de grandes civilizações.
C) a importância da água é reconhecida ao longo da história.
D) o equilíbrio biológico do planeta está em grande risco.
E) o homem tem sempre se fixado às margens dos rios.
Questão 7. (PROEB). Leia o texto abaixo.
Projeto de lei da pesca é aprovado e causa polêmica no MS
Lei da Pesca libera o uso de petrechos, como redes e anzol de galho, para qualquer tipo de pescador.
Foi aprovada na manhã desta terça-feira, 24, o projeto de lei estadual nº 119/09, a “Lei da Pesca”, na Assembleia Legislativa de Campo Grande. O documento concede uma série de benefícios aos pescadores de Mato Grosso do Sul, entre eles a pesca com petrechos antes considerados proibidos, como anzol de galho e redes, para qualquer pescador munido de carteira profissional.
A aprovação foi quase unânime, 20 votos favoráveis contra apenas três contrários. Mesmo assim, a “Lei da Pesca” gerou muita polêmica entre deputados e os mais de 400 pescadores que acompanharam de perto o plenário.
Um dos deputados opositores mais ferrenhos da nova lei disse que a liberação da pesca com petrechos irá acelerar em poucos meses o processo de extermínio de algumas espécies que antes podiam ser capturadas apenas pelos ribeirinhos. Em seu discurso de defesa à proibição aos petrechos, ele destacou que o artigo 24 da Constituição Federal diz que quando existem conflitos entre interesses econômicos e ambientais, o ambiental deve sempre prevalecer.
O Presidente da Associação de Pescadores de Isca Artesanal de Miranda (MS), Liesé Francisco Xavier, no entanto, é favorável à liberação dos petrechos. “Nós só queremos trabalhar conforme está na Constituição Federal, que libera o uso dos petrechos nos rios”, argumenta ele.
Pesca & Companhia. nov. 2009. Fragmento. *Adaptado: Reforma Ortográfica.
Nesse texto, no discurso de defesa à proibição aos petrechos, o argumento utilizado pelo deputado se fundamenta
A) na constituição.
B) na economia.
C) na sociedade.
D) no ambiente.
E) no conflito.
Questão 8. Leia o texto, abaixo e responda.
Preferência alimentar das crianças é altamente influenciada pelos desenhos nas embalagens dos produtos
Estudo desenvolvido na Universidade da Pensilvânia mostrou que o sabor dos alimentos nem sempre é fator decisório na hora de escolher a marca. Quem faz a melhor embalagem é quem vende mais.
Redação Época
Um estudo feito pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descobriu que as crianças são altamente influenciáveis pelos desenhos contidos nas embalagens de produtos alimentícios e tendem sempre a preferir aqueles que contenham representações de seus personagens preferidos, não importando qual seja o sabor do alimento. Embalagens com desenhos famosos, como Shrek ou os pinguins do filme Happy Feet, fazem as crianças terem hábitos errados de alimentação.
“Personagens comerciais fazem com que seja mais fácil para as crianças lembrarem e identificarem os produtos. São uma identidade visual”, afirma Sarah Vaala, uma das autoras da pesquisa. O problema, diz ela, é que a indústria de alimentos usa isso de forma errada, colocando nas embalagens dos produtos menos saudáveis e nutritivos os desenhos mais populares entre as crianças.
“As crianças transferem sua preferência pelo personagem para o produto e querem comprá-lo mais (que outro que até tenha um gosto melhor)”, disse Vaala. “O que queríamos saber era se essa preferência se refletia também no sabor do produto; se colocando esses personagens as empresas estavam, na verdade, influenciando subconscientemente o julgamento das crianças”.
Para comprovar a tese, os pesquisadores convidaram 80 crianças entre quatro e seis anos para fazer um teste de sabor cego. Colocaram, em quatro embalagens, o mesmo cereal – um tipo saudável e que não costuma ser vendido em supermercados –, sendo que em duas dessas embalagens lia-se “flocos saudáveis” e, nas outras duas, “flocos doces”. Também em uma embalagem de cada suposto tipo de flocos foram desenhados personagens do filme Happy Feet.
O resultado mostrou que as crianças tendiam a preferir o conteúdo das embalagens com os desenhos e, dentre essas duas, aquela que continha o aviso “flocos saudáveis”. Segundo os pesquisadores, esse fato talvez seja explicado pelo fato de que, desde muito pequena, a criança é ensinada que comer produtos com mais açúcar faz mal. [...]
Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0, ,EMI216938-15257,00-PREFERENCIA+ALIMENTAR+DAS+ CRIANCAS+E+ALTAMENTE+INFLUENCIADA+PELOS+DESENHOS+ .htm>
Qual é a frase que sintetiza o conteúdo desse texto?
A) A aparência dos alimentos é superior ao seu sabor para as crianças.
B) A alimentação infantil é ruim devido à má fé das indústrias de alimentos.
C) Os personagens comerciais são capazes de vender qualquer produto.
D) Os alimentos com rótulos de informação saudável são mais consumidos.
Questão 9. Leia o texto a seguir e responda.
É difícil superar a tecnologia do livro
O fundador da Wikipédia diz que ela não causará o fim do saber no papel.
Um grande sonho da Antiguidade era reunir todo o conhecimento do mundo na Biblioteca de Alexandria, no Egito.
Depois de 2.300 anos, a empreitada parece ser possível com a Wikipédia, enciclopédia online criada em 2001 pelo norte americano Jimmy Wales, junto com Larry Sanger. Com mais de 10 milhões de artigos em 263 línguas e dialetos, ela pode receber a colaboração de qualquer internauta. Wales lança nesta semana, em São Paulo, o Instituto Wikimedia Brasil, capítulo local da Fundação Wikimedia. O instituto vai incentivar a disseminação de conhecimento gratuito no país. Mesmo com a imensa massa de informação virtual de hoje, Wales diz não acreditar que o livro em papel será um dia substituído como fonte de conhecimento. “Não é tão caro, não precisa de bateria e pode ser levado à praia ou carregado na chuva.”
Entrevista com Jimmy Wales. Época, n.º 547, nov./2008, p. 98-100 (com adaptações)
Assinale a opção correta de acordo com as ideias do texto.
(A) A enciclopédia online Wikipédia possui limites quanto à quantidade de informações processadas.
(B) Há no texto evidências de que as informações da Internet superarão o conhecimento contido no livro.
(C) Jimmy Wales, criador da Wikipédia, afirmou que o livro não será superado como fonte do conhecimento.
(D) O livro será substituído pela enciclopédia virtual.
Questão 10. Leia o texto a seguir e responda.
Índio plantando soja?
Causou sensação nos jornais, há poucos dias, a divulgação de síntese do estudo publicado na revista Science por Michael Heckenberger e outros pesquisadores, dando conta de que entre 1250 e 1400 havia na região do Xingu “aldeias gigantescas”, com até 500 mil metros quadrados e 5 mil pessoas, interligadas por estradas de até 5 quilômetros de extensão por 50 metros de largura. Nesses lugares havia ainda, segundo o artigo, represas, pontes, aterros e fossas. [...]
De qualquer forma, o estudo voltou a pôr em evidência o tema indígena, num momento em que se multiplicam os conflitos envolvendo muitas etnias, na Amazônia, nos dois Matos Grossos, no Paraná, na Bahia, em Pernambuco, em Santa Catarina, em quase toda parte.[...]
Também preocupante é uma declaração atribuída pelos jornais ao novo presidente da Funai (o 33o em 35 anos), em sua posse. Disse ele – assegura o noticiário – que o grande desafio “é transformar as economias indígenas para que elas tenham auto-sustentação”. Para ele, “os índios devem produzir um excedente para que possam vender e não precisem mais pedir ajuda”.Complicado. Para produzir excedentes e vender, as culturas indígenas têm de modificar-se profundamente, provavelmente complexificar-se socialmente, adquirir tecnologias que não geram eles mesmos, tornar-se dependentes por esse e outros motivos. Provavelmente, deixar de ser índios. Será esse o objetivo da Funai? Integrar as culturas indígenas à cultura externa, transformá-las, levá-las a perder a identidade e tantas características que deveríamos lutar para que subsistam, na medida em que apontam para várias utopias humanas? Para quê? As razões invocadas são quase vergonhosas: “Não temos recursos financeiros para a assistência indígena nem para demarcação.”
É grave. A se configurarem essas palavras, o órgão encarregado da política indígena confessa sua impotência. E propõe caminhos que nascem não das necessidades nem dos desejos do País, mas de problemas orçamentários. [...] Quanto à Amazônia, a política de fomento agrícola deve concentrar-se em áreas já desmatadas, e não provocar novos desmatamentos; o modelo deve ser o da agricultura ecológica e dos sistemas agroflorestais; a política agrícola deve estimular o cumprimento da legislação ambiental, especialmente a manutenção de áreas de preservação permanente e reserva legal.Nessa moldura, não cabe índio plantando soja.
(Washington Novaes, O Estado de S.Paulo, 26/9/2003, p. A 2)
Observe como são curtos os períodos “Complicado.” e “É grave.” Eles têm a função de introduzir o 4º e o 5º parágrafos, ao mesmo tempo em que, em relação ao texto como um todo, enfatizam a
A) preocupação do articulista em destacar a insegurança econômica dos índios.
B) discordância do articulista em relação às declarações do novo presidente da Funai.
C) necessidade de integrar à cultura indígena as novas tecnologias.
D) desconfiança do articulista quanto ao financiamento de recursos para os índios.
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