[AULA 2] Implicações do Suporte, do Gênero e/ou do Enunciador na Compreensão do Texto - 3º EM
- Nelson Junior
- há 1 dia
- 12 min de leitura
Sejam bem-vindos a mais uma aula do nosso curso preparatório. Hoje, vamos mergulhar em dois descritores cruciais para a interpretação textual: o D5 (Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso) e o D12 (Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros). Preparem-se para expandir suas habilidades de leitura e compreensão!
Quando lemos um texto, não basta entender o que está escrito — precisamos perceber como, onde e por quem ele foi produzido.Esses três elementos — suporte, gênero e enunciador — influenciam profundamente a forma como o leitor compreende a mensagem.
Imagine a diferença entre uma notícia publicada num jornal impresso e a mesma notícia publicada num meme no Instagram.O conteúdo pode ser parecido, mas a maneira de dizer, o público e o efeito produzido são completamente diferentes.É justamente sobre isso que trata o tópico “Implicações do Suporte, do Gênero e/ou do Enunciador na Compreensão do Texto.”
O que são as “implicações do suporte, do gênero e do enunciador”?
O SUPORTE: onde o texto aparece
O suporte é o meio físico ou digital em que o texto é veiculado — pode ser um livro, jornal, revista, outdoor, rede social, site, vídeo, cartaz, panfleto, tela de celular, entre outros.
O suporte influencia:
O tamanho e o formato do texto: um outdoor precisa ser curto e chamativo; um artigo acadêmico pode ser longo e detalhado.
O tipo de linguagem: textos em redes sociais costumam ser informais, com emojis, hashtags e abreviações.
O público esperado: quem lê um anúncio no Instagram não é o mesmo público de uma matéria científica.
🧩 Exemplo:
Um mesmo aviso — “Não jogue lixo no chão” — pode aparecer:
Num cartaz de rua (suporte físico, linguagem direta, apelo visual);
Numa campanha digital (suporte virtual, linguagem interativa, uso de vídeo ou meme);
Num projeto escolar (suporte educacional, linguagem didática).
O sentido muda conforme o suporte, porque muda o contexto de circulação.
O GÊNERO: que tipo de texto é?
O gênero textual é a forma socialmente reconhecida de comunicação, criada para atender a uma finalidade específica.
Existem gêneros informativos (notícia, reportagem), argumentativos (artigo de opinião, editorial), instrucionais (manual, receita), publicitários, narrativos, entre outros.
Cada gênero tem:
Estrutura própria (ex.: título, subtítulo, parágrafos curtos, imagens);
Linguagem adequada (formal, coloquial, técnica);
Finalidade comunicativa (informar, convencer, entreter, instruir, emocionar, denunciar etc.).
🧩 Exemplo:
Um texto sobre alimentação saudável pode ser:
Artigo científico: linguagem técnica, finalidade informativa.
Post de influenciador: linguagem leve, finalidade persuasiva e comercial.
Propaganda de produto fitness: linguagem emocional, finalidade de convencer o consumidor.
Portanto, identificar o gênero é essencial para compreender o propósito e o tom do texto.
O ENUNCIADOR: quem fala e para quem
O enunciador é a voz que produz o texto — a pessoa, instituição ou personagem que fala. Já o interlocutor é aquele para quem o texto é direcionado (público-alvo).
Saber quem fala e para quem fala muda totalmente nossa interpretação.
🧩 Exemplo:
Se um médico escreve “Vacine-se contra a gripe”, entendemos como uma orientação técnica. Se uma marca de remédio diz o mesmo, percebemos um interesse comercial. O conteúdo é parecido, mas o enunciador muda o sentido.Agora que você entendeu o conceito central do tópico, vamos ver como os descritores D5 e D12 se encaixam nele.
CONHECENDO O DESCRITOR
🎯 D5 – Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto etc.)
Este descritor foca na interpretação de textos que unem palavra e imagem — ou seja, textos multimodais.Eles combinam linguagem verbal (o que está escrito) e linguagem não verbal (imagens, cores, ícones, tipografia, disposição visual) para criar sentido.
Esses materiais gráficos — propagandas, tiras, memes, fotos, infográficos, charges — exigem que o leitor:
Observe detalhes visuais (expressões, cores, símbolos);
Relacione texto e imagem para entender o significado total;
Perceba como o suporte e o gênero determinam a leitura (por exemplo, o humor de uma charge ou a seriedade de uma campanha social).
🧩 Exemplo:
Veja uma propaganda com a frase:
“Plante uma árvore hoje. O amanhã agradece.” Ao lado, há a imagem de uma criança segurando uma muda.
O texto verbal apela à responsabilidade ambiental;
A imagem visual reforça o sentido emocional e de futuro;
O suporte (um post em rede social) amplia o alcance e cria engajamento.
Interpretar corretamente é unir esses elementos para chegar à mensagem completa.
💡 Resumo do D5: compreender um texto visual exige que você leia além das palavras, entendendo a intenção comunicativa do enunciador e a relação entre texto e imagem.
CONHECENDO O DESCRITOR
🎯 D12 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros
Este descritor trata da função comunicativa: para que o texto foi feito? Todo texto tem uma finalidade principal, e reconhecê-la ajuda o leitor a interpretar com precisão e criticidade.
Principais finalidades:
🧩 Exemplo:
Um texto com o título “Economize energia e salve o planeta!”, acompanhado do logo de uma empresa elétrica, tem finalidade persuasiva (convencer o leitor a agir).
Mas um artigo de jornal chamado “Como o uso racional de energia pode reduzir custos” tem finalidade informativa.
👉 A finalidade depende do gênero, do enunciador (quem fala) e do suporte (onde circula).
💡 Resumo do D12: saber identificar a finalidade é o mesmo que entender por que o texto foi produzido e o que ele pretende causar no leitor.
🔍 Conectando tudo: como o suporte, o gênero e o enunciador se unem
Esses elementos nunca aparecem isolados.Em qualquer texto, eles atuam juntos para formar o significado final.
🧩 Exemplo integrador:
Um quadrinho publicado em jornal (suporte)
→ pertence ao gênero tira humorística (gênero)
→ é criado por um cartunista crítico (enunciador)
→ tem como finalidade entreter e refletir sobre um tema social (D12)
→ combina imagem e texto para gerar o sentido (D5).
✅ Leia sempre com olhar crítico. Antes de interpretar, pergunte:
Onde esse texto foi publicado? (suporte)
Que tipo de texto é? (gênero)
Quem está falando? (enunciador)
O que ele quer provocar em mim? (finalidade)
Essas quatro perguntas revelam as implicações do suporte, do gênero e do enunciador, e ajudam você a aplicar os descritores D5 e D12 de forma completa.
Dominar os descritores D5 e D12 é fundamental para o sucesso na prova e, principalmente, para desenvolver uma leitura crítica e abrangente do mundo que nos cerca.
Lembrem-se: ler é muito mais do que decodificar palavras; é compreender as múltiplas linguagens que constituem os textos e desvendar as intenções por trás de sua produção.Fórum: Opinar, compartilhar e refletir
🎯 Objetivo do fórum
Promover um espaço de troca e reflexão entre os alunos para que expressem o que compreenderam sobre o papel do suporte, do gênero e do enunciador na construção do sentido de um texto, aplicando os conhecimentos dos descritores D5 e D12 a exemplos reais do cotidiano.
🧩 Orientações para participação
Leia novamente sua anotação ou resumo da aula.Relembre o que significam os três elementos principais:
Suporte: o meio em que o texto circula;
Gênero: o tipo de texto e sua estrutura;
Enunciador: quem fala e para quem fala.
Escolha um texto multimodal (com imagem e texto) que tenha circulado recentemente:pode ser uma propaganda, charge, tirinha, meme, postagem de rede social, notícia ilustrada ou foto com legenda.
Analise o material escolhido com base nas perguntas abaixo (responda em um parágrafo de 8 a 12 linhas):
Qual é o suporte do texto? Onde ele foi publicado?
Que gênero textual ele representa?
Quem é o enunciador (quem fala) e quem é o público-alvo?
Qual é a finalidade principal do texto (informar, convencer, entreter, orientar, denunciar etc.)?
De que forma os elementos visuais (imagens, cores, tipografia) ajudam a construir o sentido? (descritor D5)
Como a finalidade comunicativa se manifesta na forma e no conteúdo? (descritor D12)
Conclua seu texto com uma reflexão pessoal:
“Depois dessa aula, percebi que compreender o suporte, o gênero e o enunciador me ajuda a... (complete com sua percepção pessoal sobre leitura crítica).”
🗨️ Interação obrigatória
Após postar sua análise, leia as postagens de dois colegas e comente de forma construtiva.
Nos comentários, procure ampliar a reflexão, oferecendo:
Um exemplo semelhante de outro gênero ou suporte;
Uma observação sobre a finalidade comunicativa;
Uma pergunta que provoque debate.
(Evite apenas elogios genéricos. Busque contribuir para o aprendizado coletivo!)
PRATIQUE!
Questão 1. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
A leitura do último quadro permite afirmar que o rapaz
A) está sem planos de casar.
B) está bastante apaixonado.
C) quer mudar o toque do celular.
D) queria ficar mais um pouco.
E) quer um compromisso sério.
Questão 2. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Disponível em: <http://textosecomputadores.blogspot.com/p/tiras-de-hq.html>.
No último quadrinho, a expressão do gato sugere
A) cansaço.
B) desprezo.
C) esperteza.
D) preguiça.
E) reflexão.
Questão 3. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Disponível em: <http://blog.estudeadistancia.com>.
Esse texto faz uma crítica
A) à qualidade dos programas televisivos.
B) às brincadeiras educativas na televisão.
C) ao afastamento social provocado pela televisão.
D) ao poder de alienação da televisão.
E) aos limites impostos à televisão pela censura.
Questão 4. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Disponível em: <http://www.novaserrana.mg.gov.br/imagens/371/imagens_2720091816350.jpg>.
De acordo com esse texto, cães e gatos
A) devem ser cuidados por um adulto.
B) devem ser vacinados.
C) podem transmitir doenças às crianças.
D) precisam conviver juntos.
E) são animais perigosos.
Questão 5. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Disponível em: <http://www.cvi.org.br/cartum-porta-estreita.asp>.
A partir da leitura do Texto , conclui-se que
A) existem cadeiras de rodas que passam por portas estreitas.
B) existem locais que não são adaptados para cadeirantes.
C) os bebedouros devem ser colocados próximos aos banheiros.
D) os bebedouros de locais públicos são acessíveis a qualquer pessoa.
E) os cadeirantes não podem usar banheiros públicos.
Questão 6. (SAERO). Leia o texto abaixo e responda.
Fernando de Noronha, PE
História: descoberta em 1503 por Américo Vespúcio, a ilha foi doada pela coroa portuguesa a um nobre, Fernão de Noronha, dando origem ao seu nome. Fazendo parte da rota para o Novo Mundo, foi ocupada por holandeses e franceses. Em 1737, Pernambuco a tomou para o Brasil. Já foi usada como presídio comum, presídio político e base norte-americana na 2ª Guerra. Antes território federal, Noronha hoje é distrito estadual de Pernambuco.
Como chegar: o acesso é feito de avião a partir de Natal (360 km) ou Recife (545 km).
Formação geológica: o arquipélago é composto por 21 ilhas de ilhotas que ocupam uma área de 26km² e são o topo de uma montanha submarina de origem vulcânica cuja base está a 4 000 metros de profundidade. Uma área de 112,7 km² no arquipélago e em seu entorno foi transformada em Parque Nacional Marinho. Para ter uma ideia de sua importância, das 18 espécies de corais encontradas no Brasil, 15 ocorrem lá.
É bom saber: ao desembarcar, deve-se pagar a chamada taxa de preservação ambiental, de aproximadamente R$ 30 por dia, que é progressiva em função do tempo de estada. Algumas áreas do parque só podem ser visitadas com acompanhamento de guias credenciados. Para conhecer a ilha é possível alugar bugues ou motos, que percorrem trilhas de areia e pedras e uma de nossas menores rodovias federais: a BR-363, com apenas 7km de extensão. Por água, são inúmeros os passeios de barco e mergulhos contemplativos. O fuso horário de Noronha é de + 1 hora em relação a Brasília.
Disponível em: <www.ilhadenoronha.com.br>.
O objetivo desse texto é
A) apresentar informações sobre Fernando de Noronha.
B) descrever a formação geológica de Fernando de Noronha.
C) esclarecer questões sobre a história do Brasil.
D) oferecer possibilidades de passeios aos turistas de uma ilha.
E) persuadir o leitor a ir conhecer Fernando de Noronha.
Questão 7. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Amor e Medo
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.
É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!
Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...
ABREU, Casimiro. Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/5232/amor-e-medo
De acordo com a organização interna dos gêneros, esse texto pertence à tipologia
A) apelativa.
B) dissertativa.
C) informativa.
D) narrativa.
E) poética.
Questão 8. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Canções com Mamonas Assassinas e Maria Rita retratam tipos urbanos femininos
As canções têm a particularidade de fazer, na conjunção letra e música, um retrato do cotidiano, expondo jeitos de ser, maneiras de falar, personagens, tipos característicos de determinados momentos, lugares, classes, comunidades.
Seja qual for o estilo, a canção motiva uma escuta que possibilita um contato quase que de primeiro grau com vozes que tocam o ouvinte e estabelecem com ele um diálogo que tematiza, de maneira explícita ou não, valores sociais, culturais, morais.
Nesse sentido, a mulher, tanto quanto na poesia e nas artes em geral, tem povoado as canções, aparecendo como “divina e graciosa/estrela majestosa”, “mulher de verdade”, “mulher indigesta”, “mulher de trinta”, “dessas mulheres que só dizem sim”, “Marina morena” etc. Se a lista nunca se acaba, as mulheres encarnadas pelas canções dizem muito sobre os costumes e os valores de uma época, revelando concepções de feminino. Maria do Socorro, recente composição de Edu Krieger, cantada por Maria Rita, e a “mina” de Pelados em Santos, composição de Dinho, do saudoso grupo Mamonas Assassinas, dimensionam a maneira como dois tipos urbanos entram para a galeria das mulheres brasileiras retratadas pela música popular. Essas canções mostram, cada uma a seu modo, o lugar assumido pelo observador para estabelecer um enquadramento, delineando, sobretudo pelas escolhas linguísticas, as vozes que as materializam.
BRAIT, Beth. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12096>. Fragmento.
O texto apresentado é um exemplo de
A) artigo de opinião.
B) crônica.
C) depoimento.
D) letra de música.
E) notícia.
Questão 9. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
Disponível em: <http://www.projetosdeleitura.com.br>.
Esse texto serve para
A) convencer o leitor sobre o prazer da leitura.
B) convidar para um debate sobre a leitura.
C) divulgar os livros do autor Laé de Souza.
D) vender um projeto de leitura experimental.
Questão 10. (SAEPE). Leia o texto abaixo e responda.
O torcedor
No jogo de decisão do campeonato, Eváglio torceu pelo Atlético Mineiro, não porque fosse atleticano ou mineiro, mas porque receava o carnaval nas ruas se o Flamengo vencesse. Visitava um amigo em bairro distante, nenhum dos dois tem carro, e ele previa que a volta seria problema.
O Flamengo triunfou, e Eváglio deixou de ser atleticano para detestar todos os clubes de futebol, que perturbam a vida urbana com suas vitórias. Saindo em busca de táxi inexistente, acabou se metendo num ônibus em que não cabia mais ninguém, e havia duas bandeiras rubro-negras para cada passageiro. E não eram bandeiras pequenas nem torcedores exaustos: estes pareciam terem guardado a capacidade de grito para depois da vitória.
Eváglio sentiu-se dentro do Maracanã, até mesmo dentro da bola chutada por 44 pés. A bola era ele, embora ninguém reparasse naquela esfera humana que ansiava por tornar a ser gente a caminho de casa.
Lembrando-se de que torcera pelo vencido, teve medo, para não dizer terror. Se lessem em seu íntimo o segredo, estava perdido. Mas todos cantavam, sambavam com alegria tão pura que ele próprio começou a sentir um pouco de Flamengo dentro de si. Era o canto?
Eram braços e pernas falando além da boca? A emanação de entusiasmo o contagiava e transformava. Marcou com a cabeça o acompanhamento da música. Abriu os lábios, simulando cantar. Cantou. [...] Estava batizado, crismado e ungido: uma vez Flamengo, sempre Flamengo.
O pessoal desceu na Gávea, empurrando Eváglio para descer também e continuar a festa, mas Eváglio mora em Ipanema, e já com o pé no estribo se lembrou. Loucura continuar Flamengo [...] Segurou firme na porta, gritou: “Eu volto, gente! Vou só trocar de roupa” e, não se sabe como, chegou intacto ao lar, já sem compromisso clubista.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Disponível em: <http://flamengoeternamente.blogspot.com/2007/04/o-torcedor-carlos-drummond-de-andrade.
html>. Fragmento.
Qual é o gênero desse texto?
A) Artigo.
B) Conto.
C) Crônica.
D) Notícia.
E) Reportagem.
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