D19 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos - 3º EM
- Nelson Junior
- 10 de ago.
- 9 min de leitura

Hoje, vamos mergulhar em um aspecto fundamental da interpretação textual: a análise dos efeitos de sentido decorrentes da exploração de recursos ortográficos e morfossintáticos. Este é o foco do descritor D19, essencial para o desenvolvimento de uma leitura crítica e aprofundada.
Ortografia: Além do “Escrever Certo”
A ortografia, tradicionalmente vista como o conjunto de regras que ditam a “escrita correta” das palavras, transcende essa função básica. A escolha de grafias específicas pode carregar intenções expressivas, produzindo efeitos de sentido relevantes para a compreensão do texto. Vejamos alguns exemplos:
Emprego de maiúsculas: O uso de maiúsculas, além dos casos gramaticais obrigatórios (início de frases, nomes próprios, etc.), pode enfatizar uma palavra ou expressão, conferindo-lhe destaque e importância. Observem a diferença entre “Ele é um bom professor” e “Ele é um ÓTIMO professor”. A capitalização intensifica a qualidade atribuída ao professor.
Itálico e negrito: O itálico é frequentemente utilizado para destacar palavras estrangeiras, neologismos ou expressões que se deseja enfatizar. O negrito, por sua vez, reforça ainda mais o destaque, podendo indicar ênfase, palavras-chave ou mesmo a voz de um narrador onisciente.
Aspas: As aspas podem indicar citação direta, ironia, estrangeirismos ou mesmo uma expressão popular. O contexto é crucial para determinar o efeito de sentido pretendido. Por exemplo, a frase “Ele é um ‘gênio’” pode indicar ironia, questionando a real inteligência da pessoa.
Repetição de letras: A repetição de letras, como em “correeeeendo”, pode intensificar a ação ou expressar emoção, como medo ou excitação. Esse recurso é comum em textos literários e em mensagens informais.
Morfossintaxe: A Arquitetura do Sentido
A morfossintaxe, que estuda a formação e a combinação das palavras nas frases, desempenha um papel crucial na construção do sentido. A ordem das palavras, a escolha de determinadas estruturas sintáticas e o emprego de figuras de linguagem são alguns dos recursos que exploraremos:
Ordem direta e inversa: A ordem direta (sujeito-verbo-complemento) é a mais comum na língua portuguesa. A inversão dessa ordem (hipérbato), por sua vez, pode enfatizar um determinado elemento ou criar um efeito estilístico. Comparem: “O livro foi lido pelo aluno” (ordem direta) e “Pelo aluno foi lido o livro” (ordem inversa). Na segunda frase, o aluno ganha maior destaque.
Repetição de palavras ou expressões (anáfora): A repetição de um termo no início de versos ou frases sucessivas cria um efeito de insistência, reforçando uma ideia ou emoção. Observem este exemplo: “Era uma pedra no meio do caminho / No meio do caminho tinha uma pedra”. A repetição de “no meio do caminho” enfatiza o obstáculo.
Figuras de linguagem: As figuras de linguagem, como metáforas, comparações, metonímias, personificações, entre outras, enriquecem o texto, conferindo-lhe expressividade e beleza. Uma metáfora, por exemplo, estabelece uma relação de semelhança entre dois elementos distintos, criando um novo significado. Em “O tempo é ouro”, a metáfora associa o tempo a um metal precioso, destacando seu valor.
Conjunções e conectivos: As conjunções e os conectivos estabelecem relações lógicas entre as orações e os períodos, articulando as ideias do texto. A escolha de uma conjunção adversativa (“mas”, “porém”, “contudo”) indica oposição, enquanto uma conjunção explicativa (“porque”, “pois”) introduz uma justificativa.
Análise Prática: Integrando Ortografia e Morfossintaxe
Para consolidar o aprendizado, vamos analisar um breve trecho:
“O silêncio era ABSOLUTO. Um silêncio que gritava, um silêncio ensurdecedor. As paredes pareciam sussurrar segredos antigos, enquanto o tempo se arrastava, lento, muuuito lento.”
Ortografia: A palavra “ABSOLUTO” em maiúsculas intensifica a qualidade do silêncio. A repetição da letra “u” em “muuuito” enfatiza a lentidão do tempo.
Morfossintaxe: A personificação das paredes (“pareciam sussurrar segredos antigos”) confere vida a um elemento inanimado. A repetição da palavra “silêncio” (anáfora) reforça a atmosfera de quietude. A expressão “um silêncio que gritava, um silêncio ensurdecedor” configura um paradoxo, unindo ideias contraditórias para intensificar a sensação de ausência de som.
Compreender a interação entre ortografia e morfossintaxe é crucial para uma interpretação textual completa. Ao analisar esses recursos, somos capazes de desvendar as nuances da linguagem, apreendendo os efeitos de sentido pretendidos pelo autor e aprofundando nossa compreensão do texto.
Lembrem-se: a linguagem é um instrumento poderoso, e o domínio de seus recursos nos permite navegar com maior segurança e perspicácia pelo universo textual.
Fórum: Opinar, compartilhar e refletir
Descrição da atividade:
Hoje, nosso foco é entender como a forma como as palavras são escritas e organizadas pode transformar o significado de um texto. Para isso, vamos conversar sobre os efeitos de sentido que surgem a partir do uso de recursos ortográficos (como maiúsculas, negrito, itálico, aspas, repetição de letras) e morfossintáticos (como ordem das palavras, repetição de termos, figuras de linguagem, conjunções).
Perguntas para guiar sua participação:
Você já percebeu algum texto, seja em livros, músicas, propagandas, mensagens ou mesmo nas redes sociais, que utiliza recursos ortográficos ou morfossintáticos para causar impacto?
Compartilhe um exemplo real ou criado por você. Explique qual recurso foi usado e que efeito de sentido ele provocou.
Reflita sobre o trecho analisado na aula: “O silêncio era ABSOLUTO. Um silêncio que gritava, um silêncio ensurdecedor. As paredes pareciam sussurrar segredos antigos, enquanto o tempo se arrastava, lento, muuuito lento.”
Quais recursos ortográficos e morfossintáticos você identificou?
Como eles colaboram para a atmosfera criada pelo texto?
Você usaria algum outro recurso para intensificar o efeito de sentido? Explique.
Pratique: escreva uma frase ou pequeno parágrafo em que você explore pelo menos dois recursos estudados para criar um efeito de sentido específico (ênfase, ironia, intensidade, etc.).
Depois, explique qual foi sua intenção ao escolher esses recursos e como espera que o leitor perceba o texto.
Regras para participação no fórum:
Poste seu texto respondendo às perguntas acima.
Leia as postagens dos colegas e comente, complementando as ideias ou trazendo novas perspectivas.
Seja respeitoso e claro em suas colocações.
Evite copiar exemplos prontos; a ideia é refletir e praticar com suas próprias palavras.
Objetivo da atividade:
Desenvolver a capacidade de identificar e interpretar os efeitos de sentido gerados por recursos ortográficos e morfossintáticos, além de incentivar a produção textual consciente e criativa.
PRATIQUE!
A Revolução Silenciosa dos Livros Digitais
Nos últimos anos, uma verdadeira “revolução” silenciosa tem transformado o cenário da leitura: a ascensão dos livros digitais. De início recebidos com ceticismo por alguns, os e-books conquistaram um espaço significativo no mercado editorial, oferecendo uma alternativa prática e acessível aos tradicionais livros impressos. Mas essa transição, embora repleta de vantagens inegáveis, também suscita debates e reflexões sobre o futuro do livro e da própria experiência de leitura.
A portabilidade é, sem dúvida, um dos principais atrativos dos livros digitais. Imagine carregar centenas de obras em um único dispositivo leve e compacto. Essa facilidade tem impulsionado o consumo de leitura, especialmente entre os jovens, que demonstram grande afinidade com as tecnologias digitais. Além disso, a acessibilidade econômica também é um fator relevante. Muitas vezes, os e-books são oferecidos a preços inferiores aos livros impressos, tornando a leitura mais democrática.
Contudo, a experiência tátil de folhear as páginas de um livro, o cheiro característico do papel e a beleza das edições impressas ainda exercem um forte fascínio sobre muitos leitores. Para alguns, a leitura digital carece da “magia” do livro físico, da conexão sensorial que se estabelece com o objeto. Essa dicotomia entre o físico e o digital gera discussões apaixonadas no meio literário.
Apesar dos debates, a coexistência entre os dois formatos parece ser o caminho mais provável. Os livros digitais oferecem praticidade e acessibilidade, enquanto os livros impressos preservam o charme da tradição. O importante, em última análise, é que a leitura continue a ser um hábito cultivado, independentemente do suporte escolhido. O que importa é a IMERSÃO na história.
Questão 1. No trecho “uma verdadeira ‘revolução’ silenciosa”, o uso das aspas tem o efeito de:
a) Indicar uma citação direta de outro autor.
b) Enfatizar a magnitude da transformação.
c) Expressar ironia ou descrença em relação à mudança.
d) Destacar um termo estrangeiro.
e) Indicar uma gíria ou expressão popular.
Questão 2. A repetição da palavra “leitura” ao longo do texto tem a função de:
a) Enfatizar a importância da leitura, independentemente do formato.
b) Demonstrar a pobreza vocabular do autor.
c) Criar um ritmo lento e monótono no texto.
d) Confundir o leitor com a repetição excessiva.
e) Indicar uma contradição no argumento apresentado.
Questão 3. A expressão “A IMERSÃO na história”, escrita em maiúsculas no último parágrafo, busca:
a) Corrigir um erro gramatical anterior.
b) Introduzir um novo argumento no texto.
c) Destacar a essência da experiência de leitura.
d) Indicar uma citação de um livro famoso.
e) Criticar a leitura em formato digital.
Questão 4. A frase “Essa dicotomia entre o físico e o digital gera discussões apaixonadas no meio literário” apresenta:
a) Uma comparação entre dois elementos.
b) Uma metáfora sobre o mercado editorial.
c) Uma personificação dos livros.
d) Uma enumeração de vantagens e desvantagens.
e) Uma oposição entre duas ideias.
Questão 5. No trecho “Imagine carregar centenas de obras em um único dispositivo leve e compacto”, a forma verbal “Imagine” tem o objetivo de:
a) Dar uma ordem ao leitor.
b) Fazer uma crítica à tecnologia.
c) Apresentar uma possibilidade, convidando o leitor a refletir.
d) Descrever uma ação que já aconteceu.
e) Narrar um fato histórico.
Leia o texto abaixo e responda.
A raposa e as uvas
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha de lindos cachos maduros, coisas de fazer vir água à boca. Mas tão altos que nem pulando.
O matreiro bicho torceu o focinho:
– Estão verdes – murmurou – Uvas verdes, só para cachorros.
E foi-se.
Nisto deu um vento e uma folha caiu.
A raposa, ouvindo o barulhinho, voltou depressa e pôs-se a farejar...
Quem desdenha quer comprar.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1973. p. 47.
Questão 6. Nesse texto, a palavra “carregadinha” tem a ver com
A) o sabor das frutas.
B) a altura da parreira.
C) o tamanho dos cachos.
D) o estado das uvas: madurinhas.
E) a quantidade de uvas produzidas.
(PROEB). Leia o texto abaixo.

Jornal Folha de São Paulo, 27/04/2005.
Questão 7. O recado “anti-EUA”, gravado por Chávez, indica que o presidente se manifesta em
A) sintonia com os EUA.
B) oposição aos EUA.
C) lugar dos EUA.
D) contato com os EUA.
E) direção aos EUA.
(3ª P.D – SEDUC-GO). Leia o texto abaixo e responda.
Coisas do mundo
A juventude é realmente uma fase encantadora. Descobrir o mundo, experimentar, buscar novos horizontes, desvendar os mistérios da vida... Enfim, a primeira vez a gente nunca esquece! Seja lá qual for a novidade, é absolutamente inebriante esse momento da descoberta.
As coisas que acontecem na adolescência ficam impressas na memória, na pele, na alma e, geralmente, nos remetem às melhores coisas do mundo.
PAULA, Maria. Crônica da revista. In: REVISTA DO CORREIO. 2 mai. 2010, p, 37. Fragmento.
Patricinhas do skate
De unhas pintadas e roupas da moda, elas enterram o estereótipo rebelde. Você já deve ter se deparado com uma delas. Estão sempre de unhas pintadas, cabelo arrumado, calça de cintura baixa e camiseta baby look. Nas mãos, o longboard – a versão mais comprida do skate tradicional. Sim, essas princesinhas estão se fazendo notar por aí. Por muito tempo, o visual das skatistas foi propositalmente desleixado. Usavam camisetas de bandas hardcore, bermudões no joelho e tênis rasgados, que misturavam o estilo grunge com um ar rebeldezinho.
Agora, as novas skatistas têm cara de saudáveis, roupas limpinhas e pouca afinidade com as manobras radicais do skate. “Não é porque eu estou andando de skate que vou mudar meu estilo”, diz Mitzi Iannibelli, 18, que adora reggae e faz as unhas toda semana – “sempre quadradas e sem cutícula’’. Mitzi se diz adepta do estilo mulherzinha, que ela define como “short com a barriga de fora e camisa baby look’’. Recém-formada em estilismo, Amanda Assunção, 21, também critica o guarda-roupa rebelde: “Aquelas roupas grunges não tem nada a ver. Não gosto de estar largadona’’, diz, ajeitando o colar de pedrinhas azuis no pescoço.
O que se vê nas ruas já chama atenção das lojas especializadas. Na Kelly Connection, na Galeria River (Arpoador), de cada 10 skates vendidos, 7 são comprados por mulheres. “É impressionante como tem menina começando’’, diz Nathalia Despinoy, 29, dona da loja e skatista amadora. Segundo afirma, houve uma mudança notável no perfil das skatistas: “Elas têm um envolvimento menor com o esporte, não usam nada muito louco, nada grunge.’’
As novas skatistas divergem de suas antecessoras até no gosto musical. Dead Kennedys e Pennywise já não têm mais lugar no porta-CDs, que guarda agora discos de Bob Marley, Billie Hollyday, Natiruts, Cássia Eller e Marisa Monte. Além do visual e da música, as longboarders têm uma relação menos profissional com o skate, em que a performance não é tão importante. Isabelle Valdes, 21, gosta de descer as Paineiras no seu long. Mas não faz pose e assume que só encara a versão light da descida. “Lá de cimão, eu ainda não tenho coragem’’, diz.
Jornal do Brasil. Disponível em:<http://quest1.jb.com.br/jb/papel/
cadernos/domingo/2001/07/07/jordom20010707005.html>
Questão 8. No trecho “Usavam camisetas de bandas hardcore, bermudões no joelho e tênis rasgados, que misturavam o estilo grunge com um ar rebeldezinho.”, o diminutivo é utilizado com o intuito de
A) demonstrar ternura e afeto pelas garotas que se vestem desse modo.
B) fazer uma crítica às garotas que se vestem como rebeldes, mas não são.
C) identificar as patricinhas skatistas como sendo mais saudáveis e limpas.
D) indicar uma progressão de alguém novato para outro mais experiente.
E) referir-se ao tamanho das garotas.
(2ª P.D – Seduc-GO). Leia o texto abaixo e responda.
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora
Vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
Questão 9. A expressão “café com pão”, repetida por três vezes no início do poema, sugere
A) o barulho do trem.
B) a voz do maquinista.
C) a conversa dos passageiros.
D) a voz da menina bonita.
E) o linguajar do povo do sertão.