D10 - Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa - 9 ano
- Nelson Junior
- 2 de mai.
- 13 min de leitura
Atualizado: 5 de mai.

Hoje, vamos mergulhar no universo das narrativas e aprender a identificar um elemento crucial para a compreensão de qualquer história: o conflito gerador. Este conteúdo é fundamental para o desenvolvimento da habilidade descrita no D10 - Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
O que é o Conflito Gerador?
Imagine uma história sem nenhum problema, desafio ou obstáculo. Provavelmente, seria uma história sem graça, não é mesmo? O conflito gerador é exatamente isso que impulsiona a narrativa, é a "faísca" que dá início aos acontecimentos. Ele representa o problema central que os personagens precisam enfrentar e resolver.
Podemos entender o conflito gerador como:
Um problema a ser solucionado: Um crime a ser desvendado, um amor proibido, uma doença a ser curada.
Um desafio a ser superado: Uma competição esportiva, uma viagem perigosa, um medo a ser vencido.
Um obstáculo a ser transposto: Uma barreira social, uma diferença cultural, uma força da natureza.
Elementos que Constroem a Narrativa
Para entendermos melhor o conflito gerador, precisamos conhecer os elementos que constroem uma narrativa:
Personagens: São os indivíduos que participam da história. Podem ser protagonistas (personagem principal), antagonistas (personagem que se opõe ao protagonista) ou secundários (personagens que auxiliam ou complementam a história).
Tempo: Indica quando a história acontece. Pode ser cronológico (tempo marcado por datas, horas, etc.) ou psicológico (tempo subjetivo, marcado pelas lembranças e sentimentos dos personagens).
Espaço: Onde a história se passa. Pode ser um lugar físico (uma cidade, uma casa, uma floresta) ou um ambiente social (uma escola, uma família, um grupo de amigos).
Narrador: A voz que conta a história. Pode ser em primeira pessoa (narrador personagem) ou em terceira pessoa (narrador observador ou onisciente).
Enredo: A sequência de eventos que compõem a história. Geralmente, o enredo apresenta:
Introdução: Apresentação dos personagens, do tempo e do espaço.
Desenvolvimento: Desdobramento do conflito, com as ações dos personagens.
Clímax: Momento de maior tensão na história.
Desfecho: Resolução do conflito.
A Relação entre o Conflito e o Desenvolvimento da Trama
O conflito gerador é o motor da narrativa. Ele impulsiona as ações dos personagens, define o rumo da história e culmina no clímax e no desfecho. Sem um conflito central, a história perde o interesse e a dinâmica.
Vamos analisar um trecho da obra "Dom Casmurro", de Machado de Assis:
"Desde menino, Bentinho nutria uma paixão por Capitu, sua vizinha. No entanto, sua mãe o havia prometido ao seminário, o que impedia o romance. Esse conflito entre o amor e o destino religioso é o motor da narrativa."
Nesse exemplo, o conflito gerador é a oposição entre o amor de Bentinho por Capitu e a promessa de sua mãe de enviá-lo ao seminário. Esse conflito desencadeia uma série de eventos que conduzem a história.
Compreender o conflito gerador é essencial para a interpretação e a análise de qualquer narrativa. Ao identificar o conflito central, podemos entender melhor as motivações dos personagens, as escolhas que eles fazem e o desenrolar da história.
Fórum: Opinar, compartilhar e refletir
🎯 Objetivo da atividade:
Levar os alunos a compreender e identificar o conflito central de uma narrativa e os elementos que estruturam o enredo, estimulando o pensamento crítico, a interpretação e a análise literária.
📝 Tarefa no fórum – Etapas da participação
1. Leitura do trecho narrativo abaixo:
"A Escolha de Clara"
Clara sempre sonhou em ser artista. Desde pequena, rabiscava tudo o que via e passava horas desenhando. No entanto, ao chegar ao ensino médio, seu pai passou a pressioná-la para cursar Medicina, seguindo a tradição da família. Clara sente-se dividida entre realizar o sonho de infância e atender às expectativas do pai. Durante o último ano da escola, ela recebe a oportunidade de participar de um concurso nacional de arte, que pode mudar sua vida. Mas a inscrição coincide com o dia da prova para o curso técnico em saúde que seu pai a matriculou. Agora, Clara precisa tomar uma decisão que pode definir seu futuro.
2. Postagem individual
Responda às perguntas abaixo com base no trecho “A Escolha de Clara”:
a) Qual é o conflito gerador da história?
b) Quem são os personagens envolvidos diretamente nesse conflito?
c) Onde (espaço) e quando (tempo) essa narrativa parece se passar?
d) Que decisão você tomaria no lugar de Clara? Justifique com base em seus valores e sonhos.
3. Interação com os colegas:
Comente o post de ao menos um colega, refletindo sobre:
A identificação do conflito: você concorda com a interpretação dele(a)?
A decisão sugerida: você tomaria a mesma atitude que seu colega no lugar de Clara? Por quê?
💬 Reflexão Final (opcional):
Você já viveu um momento em que precisou escolher entre um sonho e uma expectativa externa? O que aprendeu com essa experiência?
PRATIQUE!
Leia o trecho abaixo e responda à questão.
Em uma pequena aldeia, vivia um jovem chamado Elias, conhecido por sua coragem e determinação. Um dia, uma terrível tempestade destruiu as plantações, deixando todos à beira da fome. Elias decide viajar até a cidade vizinha para buscar ajuda, enfrentando perigos como florestas densas e animais selvagens.
Questão 1. Qual é o conflito gerador da narrativa acima?
a) A coragem de Elias ao enfrentar a floresta.
b) A destruição das plantações pela tempestade, deixando a aldeia em perigo.
c) A viagem de Elias à cidade vizinha.
d) A relação de Elias com os moradores da aldeia.
Questão 2. (SAEGO). Leia o texto abaixo.
A lenda da gralha azul
Há muito tempo atrás, a gralha azul era apenas uma gralha parda, semelhante às outras de sua espécie.
Um dia, a gralha azul resolveu pedir para Tupã lhe dar uma missão que a faria muito útil e importante. Tupã lhe deu um pinhão, que a gralha pegou com seu bico com toda força e cuidado. Abriu o fruto e comeu a parte mais fina. A outra parte mais gordinha resolveu guardar para depois, enterrando-a no solo. Porém, alguns dias depois ela havia esquecido o local onde havia enterrado o restante do pinhão. A gralha procurou muito, mas não encontrou aquela outra parte do fruto.
Porém, ela percebeu que havia nascido na área onde havia enterrado a semente uma pequena araucária. Então, toda feliz, a gralha azul cuidou daquela árvore com todo amor e carinho. Quando o pinheiro cresceu e começou a dar frutos, ela começou a comer uma parte dos pinhões e enterrar a parte mais gordinha (semente), dando origem a novas araucárias.
Em pouco tempo, conseguiu cobrir grande parte do estado do Paraná com milhares de pinheiros, dando origem à floresta de araucária. Quando Tupã
viu o trabalho da gralha azul, resolveu dar um prêmio a ela: pintou suas penas da cor do céu, para que as pessoas pudessem reconhecer aquele pássaro, seu esforço e sua dedicação. Assim, a gralha, que era parda, tornou-se azul.
Disponível em: <http://zip.net/bmghi5>.
Essa história termina quando
A) a gralha enterra uma parte do pinhão.
B) a gralha resolve cuidar da araucária.
C) Tupã dá um pinhão para a gralha.
D) Tupã pinta as penas da gralha.
Questão 3. (Prova Brasil). Leia o texto abaixo:
O que dizem as camisetas (Fragmento)
Apareceram tantas camisetas com inscrições, que a gente estranha ao deparar com uma que não tem nada escrito.
– Que é que ele está anunciando? – indagou o cabo eleitoral, apreensivo. – Será que faz propaganda do voto em branco? Devia ser proibido!
– O cidadão é livre de usar a camiseta que quiser – ponderou um senhor moderado.
– Em tempo de eleição, nunca – retrucou o outro. – Ou o cidadão manifesta sua preferência política ou é um sabotador do processo de abertura democrática.
– O voto é secreto.
– É secreto, mas a camiseta não é, muito pelo contrário. Ainda há gente neste país que não assume a sua responsabilidade cívica, se esconde feito avestruz e...
– Ah, pelo que vejo o amigo não aprova as pessoas que gostam de usar uma camiseta limpinha, sem inscrição, na cor natural em que saiu da fábrica.
(...).
DRUMMOND, Carlos. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 38-40.
O conflito em torno do qual se desenvolveu a narrativa foi o fato de:
A) alguém aparecer com uma camiseta sem nenhuma inscrição.
B) muitas pessoas não assumirem sua responsabilidade cívica.
C) um senhor comentar que o cidadão goza de total liberdade.
D) alguém comentar que a camiseta, ao contrário do voto, não é secreta.
Questão 4. (Prova Brasil). Leia o texto abaixo:
A beleza total
A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços.
A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa.
O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito.
Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um dia cerrou os olhos para sempre. Sua beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado a sete chaves.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
O conflito central do enredo é desencadeado
A) pela extrema beleza da personagem.
B) pelos espelhos que se espatifavam.
C) pelos motoristas que paravam o trânsito.
D) pelo suicídio do mordomo.
Questão 5. Leia o texto abaixo.
E.C.T.
Tava com um cara que carimba postais
Que por descuido abriu uma carta que voltou Levou
um susto que lhe abriu a boca
Esse recado veio pra mim, não pro senhor.
Recebo crack, colante, dinheiro parco embrulhado
Em papel carbono e barbante, até cabelo cortado
Retrato de 3 x 4 pra batizado distante
Mas isso aqui meu senhor, é uma carta de amor
Levo o mundo e não vou lá
Mas esse cara tem a língua solta
A minha carta ele musicou
Tava em casa, a vitamina pronta
Ouvi no rádio a minha carta de amor
Dizendo “eu caso contente, papel passado, presente
Desembrulhado, vestido, eu volto logo me espera
Não brigue nunca comigo, eu quero ver nossos filhos
O professor me ensinou a fazer uma carta de amor”
Leve o mundo que eu vou já
Nando Reis, Marisa Monte, Carlinhos Brown
O verso “Tava com um cara que carimba postais” é um exemplo de linguagem
A) coloquial.
B) formal.
C) jornalística.
D) literária.
Questão 6. Leia o texto para responder a questão abaixo:
A outra noite, Rubem Braga
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui.
Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar indo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas. Uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
— O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra − pura, perfeita e linda.
— Mas, que coisa...
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva.
Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
— Ora, sim senhor...
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um “boa noite” e um “muito obrigado ao senhor” tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.
O fato que desencadeou a história foi
A) a viagem a São Paulo.
B) o mau tempo em São Paulo.
C) o agradecimento do taxista.
D) a conversa ouvida pelo taxista.
Questão 7. Leia o texto para responder a questão abaixo:
Tatuagem
Enfermeira inglesa de 78 anos manda tatuar mensagem no peito pedindo para não proceder a manobras de ressuscitação em caso de parada cardíaca. (Mundo Online, 4, fev., 2003)
Ela não era enfermeira (era secretária), não era inglesa (era brasileira) e não tinha 78 anos, mas sim 42; bela mulher, muito conservada. Mesmo assim, decidiu fazer a mesma coisa. Foi procurar um tatuador, com o recorte da notícia. O homem não comentou: perguntou apenas o que era para ser tatuado.
– É bom você anotar – disse ela – porque não será uma mensagem tão curta como essa da inglesa.
Ele apanhou um caderno e um lápis e dispôs-se a anotar.
– “Em caso de que eu tenha uma parada cardíaca” – ditou ela –, “favor não proceder à ressuscitação”. Uma pausa, e ela continuou:
– “E não procedam à ressuscitação, porque não vale a pena. A vida é cruel, o mundo está cheio de ingratos.”
Ele continuou escrevendo, sem dizer nada. Era pago para tatuar, e quanto mais tatuasse, mais ganharia.
Ela continuou falando.(...). Àquela altura o tatuador, homem vivido, já tinha adivinhado como terminaria a história (...). E antes que ela contasse a sua tragédia resolveu interrompê-la.
– Desculpe, disse, mas para eu tatuar tudo o que a senhora me contou, eu precisaria de mais três ou quatro mulheres.
Ela começou a chorar. Ele consolou-a como pôde. Depois, convidou-a para tomar alguma coisa num bar ali perto.
Estão vivendo juntos há algum tempo. E se dão bem. (...). Ele fez uma tatuagem especialmente para ela, no seu próprio peito. Nada de muito artístico (...).
Mas cada vez que ela vê essa tatuagem, ela se sente reconfortada. Como se tivesse sido ressuscitada, e como se tivesse vivendo uma nova, e muito melhor, existência.
(Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, 10/03/2003.)
O fato gerador do conflito que constrói a crônica é a secretária
A) ser mais jovem que a enfermeira da notícia.
B) concluir que a vida não vale a pena.
C) achar romântica a história da enfermeira
D) ter se envolvido com o tatuador.
Questão 8. Leia o texto para responder a questão a seguir:
Conversa fiada
Era uma vez um homem muito velho que, por não ter muito o que fazer, ficava pescando num lago.
Era uma vez um menino muito novo que também não tinha muito o que fazer e ficava pescando no mesmo lago.
Um dia, os dois se encontraram, lado a lado, na pescaria, e no mesmo momento, exatamente no mesmo instante, sentiram aquela puxadinha que indica que o peixe mordeu a isca. [...] Quando apareceram os respectivos peixes, porém, decepção: o peixe do menino era muito velho e o peixe do velho era muito novo!
O velho disse para o menino:
– Você não pode pescar esse peixe tão velho!
Deixe que ele viva o pouco da vida que lhe resta.
O menino respondeu:
– E o que você vai fazer com este peixe tão novo? Ele é tão pequeno... deixe que ele viva mais um pouco!
O velho e o menino olharam um para o outro e, sem perder tempo, jogaram os peixes no lago.
Ficaram amigos e agora, quando não têm muito o que fazer, vão até o lago, cumprimentam os peixes e matam o tempo jogando conversa fora.
FRATE, Diléa. Histórias para Acordar. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1996
O fato responsável pelo desenrolar da história é
A) o encontro e a pescaria do menino com o velho no lago.
B) o peixe do velho ser muito velho.
C) o peixe do menino ser novo e pequeno.
D) o retorno dos peixes ao lago.
Questão 9. Leia o texto para responder a questão a seguir:
Cuitelinho
Cheguei na beira do porto onde as ondas se 'espaia'
As 'garça' dá meia volta e senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta, que o botão de rosa caia
Ai quando eu vim da minha terra despedir da 'parentaia'
Eu entrei no Mato Grosso bem em terras paraguaias lá
tinha revolução, enfrentei forte 'bataia'
A tua saudade corta como aço de 'navaia' o coração
fica 'afrito', uma bate a outra 'faia'
Os 'zoio' se enchem d'água que até a vista se 'atrapaia'
A tua saudade corta como aço de 'navaia' o coração
fica 'frito', uma bate a outra 'faia'
Os 'zoio' se enchem d'água que até a vista se 'atrapaia'
Paulo Vanzolini / Antônio Xandó
O texto apresenta muitas marcas da língua oral. Trecho que confirma essa afirmativa é
(A) “Cheguei na beira do porto”
(B) “Eu entrei no Mato Grosso!”
(C) “A tua saudade corta”
(D) “Os 'zoio' se enchem d'água”
Questão 10. Leia o texto abaixo e responda.
VISITA
Sobre a minha mesa, na redação do jornal, encontrei-o, numa tarde quente de verão. É um inseto que parece um aeroplano de quatro asas translúcidas e gosta de sobrevoar os açudes, os córregos e as poças de água. É um bicho do mato e não da cidade. Mas que fazia ali, sobre a minha mesa, em pleno coração da metrópole?
Parecia morto, mas notei que movia nervosamente as estranhas e minúsculas mandíbulas. Estava morrendo de sede, talvez pudesse salvá-lo. Peguei-o pelas asas e levei-o até o banheiro. Depois de acomodá-lo a um canto da pia, molhei a mão e deixei que a água pingasse sobre a sua cabeça e suas asas. Permaneceu imóvel. É, não tem mais jeito — pensei comigo. Mas eis que ele se estremece todo e move a boca molhada. A água tinha escorrido toda, era preciso arranjar um meio de mantê-la ao seu alcance sem contudo afogá-lo. A outra pia talvez desse mais jeito. Transferi-o para lá, acomodei-o e voltei para a redação.
Mas a memória tomara outro rumo. Lá na minha terra, nosso grupo de meninos chamava esse bicho de macaquinho voador e era diversão nossa caçá-los, amarrá-los com uma linha e deixá-los voar acima de nossa cabeça. Lembrava também do açude, na fazenda, onde eles apareciam em formação de esquadrilha e pousavam na água escura. Mas que diabo fazia na avenida Rio Branco esse macaquinho voador? Teria ele voado do Coroatá até aqui, só para me encontrar? Seria ele uma estranha mensagem da natureza a este desertor?
Voltei ao banheiro e em tempo de evitar que o servente o matasse. “Não faça isso com o coitado!” “Coitado nada, esse bicho deve causar doença.”
Tomei-o da mão do homem e o pus de novo na pia. O homem ficou espantado e saiu, sem saber que laços de afeição e história me ligavam àquele estranho ser. Ajeitei-o, dei-lhe água e voltei ao trabalho. Mas o tempo urgia, textos, notícias, telefonemas, fui para casa sem me lembrar mais dele.
GULLAR, Ferreira. O menino e o arco-íris e outras crônicas. Para gostar de ler, 31. São Paulo: Ática, 2001. p. 88-89
Com base na leitura do texto, pode-se concluir que a questão central é
A) a presença inesperada de um inseto do mato na cidade.
B) a saudade dos amigos de infância
C) a vida agitada da grande cidade.
D) a preocupação com a proteção aos animais.
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