Foco Narrativo
- Nelson Junior

- há 5 horas
- 16 min de leitura

O que é foco narrativo?
O foco narrativo é a perspectiva a partir da qual uma história é contada. Em outras palavras, é o “lugar” ocupado pelo narrador dentro da narrativa. Ele determina o que o leitor sabe, como os fatos são apresentados e qual visão temos dos personagens.

Podemos encontrar três tipos principais de foco. No narrador em 1ª pessoa, o narrador participa da história e conta os acontecimentos usando “eu”, mostrando apenas aquilo que ele vive e sente. Já no narrador em 3ª pessoa observador, o narrador não participa da narrativa e descreve os fatos como quem observa de fora. Por fim, o narrador onisciente também usa a 3ª pessoa, mas conhece tudo sobre a trama: pensamentos, sentimentos e intenções dos personagens.
Compreender o foco narrativo é essencial para analisar como uma história é construída e de que forma o autor conduz a visão do leitor.
Tipos de Narradores
A escolha do narrador determina a forma como a história será apresentada ao leitor. Cada tipo de narrador oferece um nível diferente de proximidade, conhecimento e interpretação dos fatos. A seguir, veja uma explicação detalhada dos principais tipos de narrador.
Narrador na 1ª pessoa
Nesse tipo de narrativa, o narrador faz parte do universo ficcional e utiliza pronomes como “eu” e “nós”. Ele relata os acontecimentos a partir da sua própria vivência e, por isso, apresenta uma visão subjetiva e limitada dos fatos. Apenas o que ele vê, sente, pensa ou é informado pode ser narrado.

A) Narrador personagem
É o narrador que ocupa o papel principal dentro da narrativa ou tem participação direta nos eventos centrais. Ele conta a história a partir de sua própria experiência, revelando percepções pessoais, emoções, julgamentos e lembranças.
Características principais
É protagonista ou figura central.
Narra a si mesmo e suas ações.
Revela sentimentos, inseguranças e conflitos internos.
A narrativa pode ser parcial ou tendenciosa, pois ele vê os fatos de forma subjetiva.
Cria forte aproximação com o leitor, que acompanha sua consciência.
“Eu nunca esquecerei o momento em que entrei naquela sala. Senti um frio na espinha e pensei que algo ruim poderia acontecer.”
B) Narrador testemunha
É uma personagem secundária que não protagoniza a história, mas a observa e a narra. Ele testemunha as ações do protagonista e relata apenas o que presencia ou o que é informado, sem acesso total às intenções e sentimentos das outras personagens.
Características principais
Não participa diretamente dos acontecimentos centrais.
Tem visão limitada, porém mais distanciada e menos emocional que a do narrador personagem.
Acompanha outro personagem, que geralmente é o foco da narrativa.
Funciona como “filtro” para os acontecimentos, destacando sua percepção particular.
“Vi João entrar apressado. Não sei o que ele havia decidido, mas percebi que estava diferente.”
Narrador na 3ª pessoa
Esse narrador não participa da história e utiliza pronomes como “ele”, “ela” e “eles”. Ele ocupa uma posição externa aos acontecimentos, podendo assumir diferentes níveis de conhecimento sobre as personagens e os fatos.

A) Narrador observador
Também chamado de narrador-câmera, ele relata apenas o que pode ser visto, ouvido ou percebido externamente. Não penetra na mente dos personagens, nem explica suas motivações internas. Sua função é descrever a cena com objetividade.
Características principais
Não conhece pensamentos ou sentimentos internos dos personagens.
Relata apenas ações e diálogos.
Mantém uma postura neutra e descritiva.
Aproxima-se do estilo do jornalismo ou de uma filmagem.
“Marina fechou o livro e levantou-se lentamente. Caminhou até a porta sem dizer palavra.”
B) Narrador onisciente neutro
É o narrador que sabe tudo sobre a história, mas não interfere com opiniões ou julgamentos. Conhece sentimentos, pensamentos, medos, passado e futuro dos personagens. Apesar disso, mantém postura discreta: apenas relata.
Características principais
Conhecimento total dos personagens.
Não faz comentários avaliativos.
Acompanha vários pontos de vista.
Mostra o interior psicológico sem interferir na narrativa.
“Marina fechou o livro. Estava angustiada, mas escondeu sua inquietação enquanto caminhava até a porta.”
C) Narrador onisciente intruso
Além de conhecer totalmente os personagens e a trama, este narrador intervém na história. Ele comenta ações, critica comportamentos, faz reflexões filosóficas, dá opiniões e conversa diretamente com o leitor. Esse tipo de narrador deixa clara sua presença e marca autoral.
Características principais
Onisciência total, como no caso anterior.
Faz juízos de valor e interpretações.
Dirige-se ao leitor ocasionalmente.
Interfere com comentários, observações e críticas.
“Marina fechou o livro, tomada por uma angústia que, como vocês sabem, não era infundada. É curioso como alguns personagens insistem em ignorar os sinais mais evidentes do destino.”
Como definir o foco narrativo?
Para compreender o foco narrativo de um texto, é essencial analisar quem conta a história e como ela é contada. O crítico literário Norman Friedman propôs um conjunto de perguntas que orientam essa identificação. A partir delas, torna-se possível determinar o tipo de narrador e o ponto de vista adotado pelo autor.
Quem conta a história? E como ela é contada?
Essas são as perguntas iniciais. Identificam se o narrador participa ou não participa dos acontecimentos.
Caso participe, ele pode ser personagem (protagonista) ou testemunha (personagem secundária).
Caso não participe, assume posição externa, geralmente na 3ª pessoa.
Essa análise revela o lugar do narrador dentro da narrativa.
Qual é a posição ou ângulo assumido por quem conta a história?
O “ângulo” indica o nível de envolvimento do narrador com os acontecimentos.
Uma posição privilegiada permite uma visão mais ampla, porém superficial.
Uma posição periférica oferece olhar mais limitado, porém profundo.
Assim:
O narrador personagem tende a ser mais intenso e subjetivo.
O narrador observador é mais distante e superficial por não acessar o interior das demais personagens.
Quais são os canais de informação utilizados para comunicar a história ao leitor?
Esse critério avalia de onde vêm as informações apresentadas no texto:
Falas,
ações,
pensamentos,
emoções,
descrições.
O narrador onisciente consegue acessar pensamentos e sentimentos das personagens. Já o observador e o testemunha não têm acesso ao mundo interior das demais personagens, limitando-se ao que veem ou ouvem.
Qual é a distância estabelecida entre o leitor e o narrador?
Refere-se ao grau de proximidade entre narrador e leitor.
Quanto mais subjetivo o narrador, maior a sensação de proximidade.
Quanto mais objetivo, mais distante fica do leitor.
Por exemplo:
O narrador personagem protagonista cria forte vínculo emocional com o leitor.
O narrador observador tende a produzir um efeito de distanciamento.
Com base nessas quatro perguntas, é possível definir o foco narrativo e compreender o modo como a história é construída. Esse conjunto de elementos — posição, ângulo, canais de informação e distância — permite identificar o tipo de narrador ou, conforme Friedman, os modos e pontos de vista presentes na narrativa.
Fórum: Opinar, Compartilhar e Refletir

Tema: Foco Narrativo
Objetivo da atividade
Promover um espaço de diálogo em que os alunos possam refletir, opinar e compartilhar percepções sobre os diferentes tipos de foco narrativo, compreendendo como cada tipo influencia a construção e a interpretação de uma história.Orientações para participação
Leia atentamente a explicação sobre foco narrativo e os tipos de narrador estudados em aula.
Em seguida, responda às questões norteadoras abaixo.
Após postar sua resposta, leia as contribuições de pelo menos dois colegas e comente, ampliando a discussão ou acrescentando novas ideias.
Mantenha um tom respeitoso, colaborativo e reflexivo.
Questões norteadoras
1. Qual tipo de narrador você considera mais interessante em uma narrativa? Por quê?
Explique sua preferência usando exemplos de livros, filmes, séries ou histórias que já leu ou assistiu.2. Na sua opinião, como o foco narrativo influencia a forma como o leitor interpreta a história?
Você pode comentar sobre subjetividade, intensidade emocional, distância, profundidade ou limites de informação.3. Escolha um dos tipos de narrador estudados (1ª pessoa, observador, onisciente, etc.) e descreva uma situação em que ele seria a melhor escolha para contar uma história.
Mostre que você entendeu as funções e características desse foco narrativo.Encerramento
Ao final da atividade, releia suas interações no fórum. Reflita:
Você mudou de opinião ao ler outros pontos de vista?
Descobriu algo novo sobre foco narrativo?
Percebeu como diferentes perspectivas podem alterar nossa interpretação de uma história?
PRATIQUE!
Questão 1. (FUVEST)
“(...) Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava-as, para me não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.
O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o principal irá. E o principal é que os nossos temporais eram agora contínuos e terríveis. Antes de descoberta aquela má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se fizesse azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos levavam às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento desbaratava tudo, e nós, postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era tardia nem dúbia, antes total, próxima e firme (...)”.
(Fragmento do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis)
A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela apresenta-se:
A) fiel aos fatos e perfeitamente adequada à realidade;
B) viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador;
C) perturbada pela interferência de Capitu que acaba por guiar o narrador;
D) isenta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade;
E) indecisa entre o relato dos fatos e a impossibilidade de ordená-los.
Questão 2. (UFV) Considere o texto:
"O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (...) Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma ideia mais clara do palco, do cenário e principalmente dos personagens principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana.”
(Fragmento do livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo)
Assinale a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima:
A) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal.
B) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963.
C) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x ou y em tal lugar ou tal hora.
D) Fala de maneira exemplar ao leitor porque considera sua visão a mais correta.
E) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.
Questão 3. Leia o texto abaixo e responda:
“Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade
Como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir (...)”.
(Eduardo e Mônica. RUSSO, Renato. In: Legião Urbana – Dois. EMI, 1986.)
Sobre o tipo de narrador presente na música Eduardo e Mônica, é correto afirmar que se trata de um:
A) Narrador personagem, pois, além de narrar os fatos, verídicos ou não, faz parte da história contada, sendo assim, personagem dela. Esse tipo de personagem apresenta uma visão limitada dos fatos, já que a narrativa é conduzida sob seu ponto de vista.
B) Narrador testemunha, pois é uma das personagens que vivem a história contada, mas não é uma personagem principal.
C) Narrador onisciente, pois sabe de tudo o que acontece na narrativa, seus aspectos e o comportamento das personagens, podendo, inclusive, descrever situações simultâneas, embora essas ocorram em lugares diferentes.
D) Narrador observador, pois presencia a história, mas diferentemente do que acontece com o narrador onisciente, não tem controle e visão sobre todas as ações e personagens, confere os fatos, mas apenas de um ângulo.
E) Narrador onisciente neutro, pois relata os fatos e descreve as personagens, no entanto, não tenta influenciar o leitor com opiniões a respeito das personagens, falando apenas sobre os fatos indispensáveis para a compreensão da leitura.
Questão 4. Para responder sobre os tipos de narradores, leia os fragmentos abaixo:
I. “Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a ideia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto”.
(Fragmento do conto O peru de natal, de Mário de Andrade).
II. “Ali pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes chegou no pesqueiro. Embora fizesse força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria, vinha mal-humorado daquelas cinco léguas cabritando na estrada péssima. Aliás o fazendeiro era de pouco riso mesmo, já endurecido pelos setenta e cinco anos que o mumificavam naquele esqueleto agudo e taciturno”.
(Fragmento do conto O poço, de Mário de Andrade).
III. “Nesse momento, a viúva descruzava as mãos, e fazia gesto de ir embora. Primeiramente espraiou os olhos, como a ver se estava só. Talvez quisesse beijar a sepultura, o próprio nome do marido, mas havia gente perto, sem contar dois coveiros que levavam um regador e uma enxada, e iam falando de um enterro daquela manhã. Falavam alto, e um escarnecia do outro, em voz grossa: "Eras capaz de levar um daqueles ao morro? Só se fossem quatro como tu". Tratavam de caixão pesado, naturalmente, mas eu voltei depressa a atenção para a viúva, que se afastava e caminhava lentamente, sem mais olhar para trás. Encoberto por um mausoléu, não a pude ver mais nem melhor que a princípio. Ela foi descendo até o portão, onde passava um bonde em que entrou e partiu. Nós descemos depois e viemos no outro”.
(Fragmento do livro Memorial de Aires, de Machado de Assis).
IV. “Era sempre inútil ter sido feliz ou infeliz. E mesmo ter amado. Nenhuma felicidade ou infelicidade tinha sido tão forte que tivesse transformado os elementos de sua matéria, dando-lhe um caminho único, como deve ser o verdadeiro caminho. Continuo sempre me inaugurando, abrindo e fechando círculos de vida, jogando-os de lado, murchos, cheios de passado. Por que tão independentes, por que não se fundem num só bloco, servindo-me de lastro? É que são demasiado integrais”.
(Fragmento do livro Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector).
Os narradores classificam-se, respectivamente, em:
A) narrador onisciente seletivo; narrador onisciente; narrador testemunha e narrador personagem.
B) narrador personagem; narrador testemunha, narrador onisciente e narrador onisciente seletivo.
C) narrador testemunha; narrador personagem; narrador onisciente e narrador onisciente seletivo.
D) narrador personagem; narrador onisciente, narrador onisciente seletivo e narrador testemunha.
E) narrador personagem; narrador onisciente, narrador testemunha e narrador onisciente seletivo.
Questão 5. Assinale a alternativa que apresenta uma característica do foco narrativo em primeira pessoa
A) está fora da história, utilizando pronomes como “ele”, “ela” e “eles”.
B) tem acesso aos pensamentos e sentimentos das personagens.
C) a narrativa é contada por um personagem que participa da história.
D) permite ao leitor uma visão mais ampla dos eventos.
Questão 6. De acordo com a teoria literatura o foco narrativo é
A) uma estratégia linguística que nem sempre envolve toda a trama.
B) uma estratégia linguística que muitas vezes envolve toda a trama.
C) uma estratégia linguística que sempre envolve toda a trama.
D) uma estratégia fictícia que muitas vezes envolve toda a trama.
Leia o texto e resolva a questão:
A BELEZA TOTAL
A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços.
A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa.
O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito.
Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um dia cerrou os olhos para sempre. Sua beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado a sete chaves.
Carlos Drummond de Andrade
Questão 7. O narrador, ao caracterizar a personagem, descreve-a de forma física e psicologicamente. Assinale a alternativa cuja descrição é considerada psicológica.
A) “… este era o seu destino fatal: a extrema beleza…”
B) “… a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado…”
C) “E era feliz, sabendo-se incomparável.”
D) “A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo…”
Questão 8. Em foco narrativo, narrador e personagem, atribua (V) verdadeiro ou (F) falso aos itens e marque a alternativa correta.
( ) O narrador é a voz escolhida pelo autor para relatar os acontecimentos em uma narrativa de ficção.
( ) O narrador em terceira pessoa não participa dos fatos narrados, ele apenas observa.
( ) O narrador em primeira pessoa participa da história, ele é uma personagem e, por isso, seu campo de visão é parcial, limitado. Ele só pode contar o que viveu, pensou e sentiu, ou aquilo que soube pelo relato de alguém.
( ) O narrador protagonista narra uma história do ponto de vista de quem é a personagem principal, todas as ações giram em torno dele. Sendo o ponto central da narração, ele tem conhecimento de toda a história e articula as informações do jeito que lhe convém.
( ) O narrador testemunha é uma das personagens inseridas na história, mas ele não é a principal. Ele vivencia os fatos, mas como não é protagonista, sua narrativa apresenta uma visão secundária.
A) V – V – V – V – F.
B) V – V – F – F – V.
C) F – V – V – F – V.
D) V – V – V – V – V.
(Instituto Consulplan). O texto a seguir contextualiza a questão Leia-o atentamente.
Capítulo I – de como Itaguaí ganhou uma casa de orates
As crônicas da Vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.
– A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas.
Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um Juiz de Fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas – únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.
D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência, – explicável, mas inqualificável – devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes.
(ASSIS, Machado. O alienista. Fragmento.)
Questão 9. Toda história é contada a partir do ponto de vista daquele que narra, ou seja, do foco narrativo adotado pelo narrador. Nesse sentido, considerando as características estilísticas do fragmento do conto “O Alienista”, verifica-se a caracterização de um
A) narrador que estrutura o discurso narrativo na 3ª pessoa, sem participar dos eventos narrados, demonstrando objetividade. Ele expõe a sucessão de acontecimentos, mantendo o distanciamento.
B) narrador em 3ª pessoa onisciente, imparcial, uma vez que se ocupa das descrições das personagens e do enredo. Ele narra sem observações ou avaliações sobre os dilemas familiares e sociais das personagens.
C) narrador que narra como personagem-testemunha, inserindo-se na história, apesar de não ser o protagonista. Ele narra o que acontece, interagindo com as personagens e fatos narrados, ainda que em um papel secundário.
D) narrador onisciente em 3ª pessoa, passando do distanciamento para uma função de intruso, pois não se limita a narrar a história, faz também considerações sobre o que narra. Ele tem total domínio da narrativa e passa a emitir observações sobre os fatos.
(SELECON Instituto Nacional de Seleções e Concursos - SELECON). Leia o texto I e responda a questão
O CAVALO E O BURRO
Monteiro Lobato
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado! gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse:
— Não posso mais! Esta carga excede as minhas forças, e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.
O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.
— Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?
O burro gemeu:
— Egoísta! Lembre-se que, se eu morrer, você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.
Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e, sem demora, arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.
— Bem feito! exclamou o papagaio. Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora…
Fonte: LOBATO, Monteiro Lobato. Fábulas. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994.
Questão 10. No texto, o narrador é:
A) observador, pois participa da história
B) personagem, pois participa da história
C) observador, pois não participa da história
D) personagem, pois não participa da história

![[GÊNERO TEXTUAL] Código de lei](https://static.wixstatic.com/media/c7b11a_0c5d010709294814b64aedd7e366819b~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_551,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/c7b11a_0c5d010709294814b64aedd7e366819b~mv2.jpg)
![[GÊNERO TEXTUAL] Texto Dissertativo-Argumentativo](https://static.wixstatic.com/media/f87a92_580132d7b1c44873b73ae051163537d2~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_551,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/f87a92_580132d7b1c44873b73ae051163537d2~mv2.jpg)

Comentários