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[LINGUÍSTICA E SEMIÓTICA] Linguagem do cordel

A linguagem do cordel é uma sinfonia de rimas e ritmos, uma expressão artística que tece a riqueza cultural do Nordeste brasileiro em cada verso. Neste artigo, vamos explorar as características únicas da linguagem do cordel, desvendando os segredos por trás dessa forma poética que encanta e conta histórias com uma musicalidade singular.


Características da Linguagem do Cordel:


Rimas e Métrica

A métrica é uma das colunas mestras da linguagem do cordel. Os versos são estruturados em estrofes, geralmente sextilhas, com rima, proporcionando uma cadência melódica que facilita a memorização e a transmissão oral. A escolha cuidadosa das palavras ressoa como uma melodia, criando uma harmonia única.


Linguagem Coloquial e Acessível

A simplicidade da linguagem do cordel é uma de suas marcas registradas. Os cordelistas conseguem comunicar ideias complexas de maneira acessível, utilizando uma linguagem coloquial que se conecta diretamente com o público. Essa abordagem torna os temas dos cordéis mais próximos da realidade das pessoas.


Cultura Regional

A linguagem do cordel é permeada pela riqueza da cultura nordestina. Expressões, costumes e tradições locais são incorporados, transformando cada poema em uma janela para o universo peculiar do Nordeste do Brasil. A linguagem, portanto, não é apenas uma ferramenta, mas um veículo para preservar e celebrar a identidade cultural.


Imagens Poéticas e Xilogravuras

A descrição visual é tão importante quanto a narrativa verbal no cordel. Muitos cordelistas contam com xilogravuras, ilustrações simples feitas em madeira, para complementar a história. Essas imagens poéticas adicionam camadas de significado e enriquecem a experiência estética do leitor ou ouvinte.


Exemplos de Linguagem do Cordel:


Trecho de "A Chegada de Lampião no Inferno" - Luiz Gonzaga


"Na porta do céu chegando,

São Pedro ficou assustado,

Lampião deu um sorriso,

E o diabo deu um inchado."

Nesse trecho, Luiz Gonzaga utiliza uma linguagem direta e rimas simples para descrever de maneira humorística a chegada de Lampião no inferno.


Trecho de "Romance do Pavão Misterioso" - João Melchíades Ferreira


"Numa terra muito distante,

Onde a justiça não é feita,

Vivia um rei corajoso,

Que matava por brincadeira."

João Melchíades Ferreira, conhecido como João Mão Branca, cria uma atmosfera intrigante com uma linguagem envolvente ao contar a história do Pavão Misterioso.


Trecho de "O Encontro de Lampião com Ema" - Leandro Gomes de Barros


"A briga foi tão danada,

Que até o sol se escondeu,

O grito de Ema foi tanto,

Que o sol do céu estremeceu."


Leandro Gomes de Barros utiliza uma linguagem vibrante e carregada de emoção para descrever o encontro tenso entre Lampião e Ema.


A linguagem do cordel é um tesouro linguístico que transcende as palavras. Ela é um convite para dançar com a musicalidade dos versos, explorar as tradições culturais e se perder nas imagens poéticas. Ao mergulhar nos exemplos e entender as características dessa linguagem encantadora, podemos apreciar não apenas a poesia, mas também a riqueza cultural e histórica que o cordel traz consigo.


Cada verso é uma ponte entre passado e presente, entre a tradição e a inovação, continuando a encantar aqueles que se aventuram por esse universo poético único.

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